Idos de 1991, plena efervecência do governo Collor de Melo, estava eu Professora de Histologia e Embriologia da Universidade Federal Rural de PE. Era uma entusiasta pelo que fazia, conseguia no regime de 40 horas, ensinar o3 disciplinas ( Histologia , Embriologia e Citologia ) para alunos dos cursos de Medicina Veterinária, Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas. Ainda tinha fôlego para orientar monografias de alunos concluintes e participar de representações de colegiados e ainda tocar meus Projetos de Pesquisa.
Nunca quiz ser Dedicação Exclusiva, apesar de trabalhar o suficiente para tal, apenas me resguardava o direito de quando necessário atender meus clientes de Odontologia , pois não queria afastar-me da minha profissão.
Na época eu não tinha na Instituição tempo de serviço necessário nem idade, considerados os parâmetros de hoje ,para uma aposentadoria, acontece que veio uma exigência do MEC para que fosse extinto o regime de 40 horas, quem estava nele ficaria em 20 horas ou passaria para Dedicação Exclusiva. Eu não pensei duas vezes, na ocasião fui intempestiva, requeri meu tempo de Magistério não cumulativo em outras Faculdades anexei ao processo e pedi a minha aposentadoria.
Foi traumático para mim, pois gostava do que fazia, era minha vida! Costumo dizer que Professor não se faz, nasce! Sem falsa modéstia , sinto orgulho do que consegui passar como experiência de vida para tantos em sala de aula, ao reencontrar ex-alunos, bem sucedidos , dos quais nem recordo de imediato a fisionomia que me agradecem por minha postura em mostrar-lhes a importância do ensino básico na vida profissional. Saliento que lecionei na antiga Fesp nos cursos de Odontologia e Medicina , e fiz toda minha pós graduação na Escola Paulista de Medicina e na USP , desenvolvendo minha Tese na área de Genética e Diferenciação Celular.
Hoje quando se fala tanto em Ética na área de Saúde ,quando se discute através da Mídia o absurdo de conflitos de dignóstico de Ultrassonografia em que médicos divergem da gravidez ou não de uma gestante , o que fica patente é que alguém não sabe interpretar o que viu.
Nas Disciplinas que lecionamos, para exemplificar, nas aulas práticas de Laboratório , as lâminas de Órgãos e Tecidos eram estudadas ao Microscópio e sempre dizia para os alunos " - Aqui só se vê aquilo que se sabe"-
Reportando ao ocorrido , não adianta a Tecnologia se não se sabe o que se vê, é a mais pura e simplória verdade. Vivemos uma era em que as máquinas tudo podem , resta saber se todos estão devidamente preparados para tal. Para cada paciente consultado é incrível a bateria de exames dos mais simples aos mais avançados que eram solicitados sem que o médico fizesse um exame detalhado ou olhasse pelo menos o rosto do paciente , quanto mais conversar, questionar , dialogar.
E acreditem, na volta os exames pedidos eram olhados ligeiramente e muitas vezes o paciente ao buscar outra opinião com profissional
"da antiga" descobria-se nos ditos exames a doença incidiosa que não havia sido diagnosticada. O código de ética , do velho médico falava mais alto, resolvia o problema e não havia denúncia.
Foram tantos os êrros e tantas as omissões que os verdadeiros
profissionais fiéis ao juramento de Hipócrates tomaram as rédeas e cremos ,toda a sociedade , que o resgate será feito. Muitos impropérios ainda surgirão ,mas sabemos todos que as providências serão tomadas.
Não pensem que esta situação era "coisa de Brasil", de dois anos para cá quem procurar nos arquivos da Revista Veja, páginas Amarelas encontrará no mínimo duas entrevistas de renomados médicos internacionais alertando para o que estava acontecendo de errado no ensino da Medicina, na postura dos Profissionais e no descaso para a Clínica Médica. E é coisa antiga...
Apenas para exemplificar dois casos acontecidos quando minha filha de 29 anos apareceu com catapora aos 7 anos. Numa manhã de Domingo estive em o3 emergências , sem diagnósticar nada, resolvi ir ao IMIP e lá as médicas de plantão acharam engraçado que ninguém soubesse que era catapora(?!) , o mesmo ocorreu há 06 anos com outra filha esta com 14 anos na época , o diagnóstico só foi possivel porque a levei ao Posto de Saúde perto de casa e somente a veterana Doutora da clínica Médica diante da negativa da Pediatra de plantão e da minha insistência veio dirimir a dúvida e constatar a bendita catapora e, aproveitou, e deu uma "aulinha" para a recém formada que não tem culpa de não ter aprendido semiologia das doenças ditas erradicadas. Culpa da Estrutura Curricular.
Teria mais historinhas para contar , entretanto , os que assumem o comando de uma Nação que pretende deixar de ser "em desenvolvimento" , devem levar em consideração todas as vertentes que culminem numa população melhor assistida por profissionais devidamente capacitados para tal.
Ressalto que existem muitos profissionais da área de saúde preparados, éticos, competentes, mas ainda impera uma grande maioria dissoante disto tudo. E saliento que o resgate de uma verdadeira prática da Medicina é este Projeto de Saúde da Família que deveria ser um modelo de obrigatoriedade para todo formando não passar apenas, tão somente, pelo acesso daqueles que têm conhecimento político nas Prefeituras do Interior e Bairros pobres das Capitais . É nesses lugares que se exerce de forma real o aprendizado. Parodiando é lá o "celeiro".
escrito por Maria Claudete