25 março 2009

Vendo Através do Nevoeiro.


Fecho os olhos, divago procurando no baú das recordações lembranças da minha infância. São tantas as lembranças , confusas e cinzentas , parecem até um nevoeiro , em que as nuvens passam depressa, fluem como se não quisessem ficar e serem desnudadas.
Zezé de Xanda! Ficou, olhar matreiro , garota mais velha , insinuante e fogosa, diziam que já namorava . Ela vivia com a mãe na Capital e só aparecia no nosso lugar nas festas de final de ano para dançar o Pastoril e ganhar dinheiro dos marmanjos , quando o locutor anunciava o começo do folguedo.
E ela dava um show de rebolado, mostrava despudoradamente as coxas e a calcinha vermelha ou vermelha e azul: Zezé sempre era a Mestra do Cordão Encarnado ou a Diana do Pastoril. O encarnado sempre ganhava com a Zezé.
Ela namorava os meninos mais paquerados , era disputadíssima e não muito querida pelas garotas.
Eu era bem mais nova, tinha apenas 11 anos , a Zezé já beirava os 15 ou 16 . Gostava dela, a convidava lá pra casa, para tomar leite com biscoito na hora do lanche da tarde. Ficava sempre boquiaberta com as estórias que ela contava.
Zezé sabia tudo! Pelo menos eu achava assim, e foi com ela que soube o que era virgindade. Ela chegou a contar como havia “perdido” a dela. Nunca esqueci os “conselhos” de Zezé, um deles , um verdadeiro “terrrorismo” que nos deixou bastante amedrontadas : -olha meninas, prestem atenção , cuidado quando forem tomar banho e fazer a higiene, pois os dedos tiram a virgindade, aí não é para limpar!
Já imaginaram no que deu: muito megma , coceira , visitas ao médico local e peteleco na cabeça dados pela mamãe, e o pior Zezé ficou proibida de voltar a nossa casa.
Cresci , fiquei mocinha, comecei a namorar e Zezé sumiu para retornar anos depois, feições triste e carregando um filho nos braços, sozinha e abandonada. Consegui saber dela tudo que lhe havia acontecido. O mundo de Zezé ruiu como todos os seus sonhos e fantasia.
Nossos mundos se separaram definitivamente . Há muitos anos soube que ela havia morrido, não sei se é verdade , mas os parentes que moravam no nosso interior não existem mais. Nunca soube quem eram os pais de Zezé.
Como esta lembrança foi a que pontuou hoje, me pergunto até onde ela fez a diferença nas minhas relações afetivas. Os segredos que a Zezé me passou não passei adiante , nem vivenciei todos eles, mas posso adiantar o que Zezé me disse no último encontro :- “Tudo que fiz foi por amor , estou só, mas soube gozar e ser feliz”- não sei se o gozo da Zezé foi literal, mas parece, não?
Onde você estiver Zezé este é meu tributo a você! Esta é mais uma via percorrida e resgatada por mim.

Escrito por Maria Claudete

4 comentários:

  1. Que lembrança linda! Incrível deixar o pensamento fluir não Clauzinha? Ele nos leva a lugares e pessoas, que a gente tinha certeza de ter esquecido e num repente, voltam com força e riqueza de detalhes. Bonito tributo! Bjs

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  2. Adorei sua recordação, de vez em quando me pego a recordar pedacinhos de minha vida também.
    Gostoso esse jeito que você relata.
    Beijos Maria Claudete.
    Fique com Deus.

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  3. Irmãzinha, passei pra deixar meu beijo!!! E um abraço apertado, visse?

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  4. Clau, na minha opinião, Zezé apenas nasceu na época errada. Um pouquinho adiantada. Mas, felizmente, soube dar valor ao amor. Fica aqui, minha admiração a ela, também. Beijo!

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