28 maio 2009

Levantando a Cortina.


Amo a natureza, sempre me senti viva , mesmo quando sozinha caminhando pelos prados verdejantes, correndo pelos matagais rasteiros, indo apanhar lenha com a minha bisavó ou brincando de "cozinhado" de bonecas com minha amiguinhas , durante minha infância até à adolescência vivida na zona rural .

Um temor exagerado , no entanto ,me perseguia quando me deparava com açudes , rios, cachoeiras e até o mar que ao mesmo tempo que me fascinava , me apavorava.

Cresci, vim morar na capital e nada mudou. Mesmo amando o mar, praia? só na areia , adentrar? jamais!

Sempre usava a desculpa de que por ser muito branca , não bronzear e sim "cozinhar" feito camarão , não poderia tomar banho de mar.

Minhas aventuras aquáticas se restringiam às piscinas e olhe lá , somente onde não me desse a sensação de afogamento.

Durante algum tempo sempre me perguntava qual a razão de tanto pavor, cheguei a questionar minha mãe se por acaso quando bebê havia escorregado na bacia durante o banho.

Bem, quando fazia o curso Superior aqui em Recife, certo dia de inverno e bastante chuvoso fui visitar uns amigos no bairro de Monsenhor Fabricio e não deu outra , foi uma verdadeira inundação , tivemos que ficar ilhados , esperando socorro no teto da casa.

Dei o maior vexame, fiquei histérica pois além de tudo não sabia nadar, nem boiar .

Prometi , quando tudo passou, a mim mesma que procuraria ajuda .

Continuo sem saber nadar , nem boiar! Mas fiz uma descoberta para o meu mêdo.

Numa noite de Natal , quando tinha uns 09 anos de idade , o açude de Santa Rita estourou , as comportas se abriram e o pânico tomou conta do lugarejo , está bem nítida agora a imagem do que aconteceu: a festa de rua acabou e gente corria para todos os lados procurando os lugares mais altos para se abrigarem das águas.

Corremos em direção ao morro e nossa casa ficava nas proximidades, serviu de abrigo até as águas baixarem para muitas pessoas . Na ocasião não tive medo, mamãe e as outras mulheres preparavam muita comida enquanto os homens tentatavam contornar os estragos e recuperar o que fosse possível ser consertado.

Nós, crianças, nos aglomerávamos em um dos quartos da casa para dormir e brincar. Recordo de uma senhora vestida de preto que bebia muito e o marido ralhava com ela . A bebida que ela ingeria era uma mistura de cachaça e ervas que papai usava como remédio, pelo menos era o que nos diziam - a Cabeça de Negro- depois do estouro do Açude Santa Rita , ela morreu, acho que foi devido a bebida pois disseram que "havia pipocado todo tipo de doença

reprimida no organismo dela " , no linguajar da matutada , " botado pra fora ".

Lembro bem que na parte baixa juntou tanta água que parecia que o Açude havia mudado de lugar. Toda vez que eu olhava sentia muito medo. Estas lembranças vieram à tona após ver o estrago que as águas estão fazendo no Brasil . Nunca vi reportagens sobre o assunto veiculado na mídia , talvez por defesa psicológica mesmo, por não querer reviver esta situação.

Escrever sobre isto está me fazendo um bem enorme , estou sentindo agora como se este elo do passado estivesse sendo desfeito. Volto a enxergar o Açude de Santa Rita majestoso , enorme e tranquilo, não mais ameaçador .Vejo como o local onde estão sepultadas lembranças de uma infãncia feliz, com festas da Padroeira, namoricos da adolescência , caminhadas, piquiniques e tudo de bom que ficou lá .

Vou aprender a nadar e boiar em águas tranquilas! Com certeza.

Esta é mais uma via percorrida e resgatada.
Escrito por Maria Claudete

3 comentários:

  1. Amiga, também sempre tive um certo pavor de água quando meu pé nao alcança o chão. Já aprendi a nadar, mas prefiro não arriscar. Só mesmo em caso de necessidade. Praia, só areia e bronzear. Água do mar, só para ficar admirando e ouvindo o barulho das ondas... Piscina, sento na beirada e fico nalançando os pés. Rios... nem pensar, fico longe...rs. Beijo grande!

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  2. OI Clau...

    Eu amo agua, acho que em outra encarnação eu fui um peixe, rsrsrsrsrs Aprendi a nadar sozinha, nunca fiz aula.
    E como funciona nosso psicologico néh, você transformou o medo que sentiu no moento do ocorrido em trauma...Ainda bem que conseguiu descobrir...

    Beijos poéticos.

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  3. Querida, tenho simplesmente PAVOR quando o assunto é muita água, na praia entro só na beiradinha, ao passar em cima de uma ponte evito de olhar pros lados, pra baixo, pra não ver aquele mundo de água...rsrs.
    AMEI A MÚSICA, LINDA POR DEMAIS!!!
    Beijos mil no teu coração.

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